8 de fev. de 2010

Minha Alma de Galpão

Quando a tarde chega ao fim
Avermelhando o poente
A luz do sol lentamente
Vai apagando sua brasa
Eu chego pedindo vasa
Pra um descanso no galpão
Aonde aqueço minha alma
Ao pé do fogo de chão.

Lá fora uma lua branca
Que chegou junto com a noite
E o minuano num açoite
Reponta adagas cortando
Pelas frestas vai entrando
No meu galpão de campanha
Me aquento com o fogo bueno
E algum tragito de canha.

Uma garra de pelego
Forra o cepo onde me abanco
E a idéia num solavanco
Volteia tropas no tempo
E tenho o pressentimento
Que a noite ganhou a parada
E já que o sono não chega
Proseio com a madrugada.

As labaredas que dançam
Parecem encilhar um pingo
Numa manhã de domingo
De um setembro farroupilha
E a velha estirpe caudilha
Que marcou a sangue este chão
Retorna acendendo a chama
Da alma do meu rincão.

O pensamento a galope
Se vai parando rodeio
Saudade mascando o freio
Vai camperiando a amplidão
Na quietude do galpão
O vento passa cantando
Lembranças de um tempo moço
Que a noite vêm repontando.

Eu me vejo num repente
Gineteando campo a tora
Quem riscou potros de espora
No oficio de domador
Ou cruzou um corredor
Repontando tinia boiada
Hoje tropeia o sono
Na ronda da Madrugada.

Na minha idéia surrada
Vai desfilando o meu pago
Até paro pra tornar um trago
Quando a saudade me embuçala
De ansiedade perco a fala
Que é por demais a emoção
Que o tempo vêm repontando
Pro peito deste peão.

Assim nesta noite inquieta
Sinto pulsar a querência
E nesta minha existência
Enquanto estiver na terra
Cruzarei campanha e serra
Sempre cantando meu chão
Levando a tropa de ânsias
Da minha alma de galpão. 

Autoria: Jorge Lima